‘’Dra., eu tenho uma depressão?’’
Recentemente, fui confrontada com esta questão por uma jovem de 14 anos, em contexto de setting terapêutico.
Percebi que, no seu olhar, havia uma mistura de medo e vergonha. Vergonha por ter feito a pergunta, medo por saber qual seria a minha resposta. Naquele momento percebi que o seu medo seria o rótulo. O nome. A doença. O diagnóstico.
Qual era a importância do diagnóstico para esta jovem? O que é que muda na vida desta jovem depois do diagnóstico?
Um diagnóstico em saúde mental, é semelhante a um diagnóstico em qualquer outra situação de saúde. Para que serve? Para estar ao serviço da pessoa.
''O diagnóstico está ao serviço da pessoa.''
Não é a pessoa que deve viver com o peso do diagnóstico.
O diagnóstico é importante, tem objetivos concretos e existe para ajudar.
Um dos objetivos do diagnóstico visa uma linguagem compreensiva entre todos. Tem uma utilidade clínica, utilidade essa que compreende não só a promoção da saúde do/a paciente, bem como fins de investigação.
É importante saber a situação com a qual se está a lidar. Quando o problema é identificado e definido, são traçadas estratégias e formas de intervenção para chegar à solução, com o/a paciente, com o apoio da sua rede de suporte (familiares, amigos, outras pessoas que estejam a passar pela mesma situação), e com outros profissionais de saúde. Se a situação for devidamente identificada, pode ser devidamente tratada, o que pode evitar muito sofrimento psicológico para aquela pessoa e para aqueles que a rodeiam. E é importante esclarecer o/a paciente sobre todas as dúvidas que surjam ao longo de todo do processo.
Quando um/a paciente recebe um diagnóstico de diabetes, o que faz com essa informação?
Define estratégias com os profissionais de saúde, procura mudar os seus comportamentos e a sua alimentação em prol da sua saúde. Percebe a importância da insulina, de controlar os seus níveis de açúcar. Percebe que é importante fazer várias refeições por dia e que não deve ficar em jejum.
E isto acontece porquê? Porque houve um diagnóstico. Porque a situação foi devidamente identificada. Porque a pessoa que recebeu este diagnóstico, terá a partir desse momento, mais controlo sobre a sua saúde e a sua qualidade de vida.
O diagnóstico em saúde mental tem exatamente o mesmo objetivo.
Falar de sofrimento psicológico e de psicopatologia, não deve ser sinónimo de reduzir a pessoa à sua saúde mental.
Um diagnóstico não é uma checklist de sintomas. Compreende vários fatores, como a formulação do caso clínico, aspetos ligados ao desenvolvimento do/a paciente, aspetos culturais, aspetos familiares, experiências prévias, sintomas, comportamentos, sofrimento psicológico e fatores genéticos, entre outros.
Deve ser levado com a máxima responsabilidade por parte dos profissionais que o traçam. Tem a sua importância, mas é apenas uma pequena parte do processo.
E, acima de tudo, é importante ter em conta que o diagnóstico está sempre associado a uma pessoa. E é a pessoa que importa!
Ninguém é a sua saúde mental. Ninguém é a sua ansiedade, a sua depressão ou o seu medo. Ninguém sabe a dor que o outro carrega.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) ‘’Metade de todas as doenças mentais começa aos 14 anos, mas a maioria dos casos não é identificada nem tratada. Em termos de carga da doença entre adolescentes, a depressão é a terceira causa principal’’.
Por aqui, vamos continuar a falar de saúde mental. Vamos mostrar às nossas crianças e jovens, que a saúde mental não é apenas a ausência de doença, mas sim a promoção da saúde como um todo, o bem-estar e a promoção de hábitos de vida saudáveis
Até breve!
Susana Santos
Psicóloga Clínica
Membro Efetivo da Ordem dos Psicólogos Portugueses nº 24251
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